terça-feira, abril 19, 2011

Aflora


Falas floradas
fala o poeta.
Aflora suas idéias.
A flora, a fauna, a folha
e o homem que sempre falha,
meio sem querer querendo,
sabendo que assim fazendo,
sua vida, minha vida
e o coração do poeta...
tudo se estraçalha.
Floradas falas, antecipadas,
que o poeta diz, antecipando
a alegria que seria, quem diria
se todos de hoje em dia
parassem
de uma vez
de desaflorar
a flora -
      diz a flora,
chora a fauna,
  grita a falha
escancarada
ao homem que
não tem graça,
 que só semeia
 desgraça,
que desmata
e nos mata,
que se mata
ao desmatar
a natureza!
Daniela Rodrigues
01.03.2011



Silêncio!




Mãe preste muita atenção
no favor que eu lhe peço.
Não se assuste que é bem fácil,
não necessita dinheiro,
nem tampouco ir pra longe
pra buscar o que eu quero.

Vá à casa do vizinho
que mora ali ao lado,
peça à ele que desligue,
com jeito e com cuidado,
tal máquina cujo ruído
me tem muito atormentado.

Depois passe lá na rua
e diga no mesmo instante
à qualquer um que passar,
criança ou gente grande:
que não grite, que não fale,
que não brinque, que não cante!

Mande os bichos lá de fora,
cães, gatos e passarinhos
e até mesmo o Bem-te-vi
que bem vê tudo em seu ninho,
ficarem por um momento
calados e bem quietinhos!

Acima de tudo isso
ordene aos motoristas,
caminhoneiros, pilotos,
motoqueiros, manobristas
pra guiarem seus veículos
bem longe, por outras pistas.

Ao voltar pra casa mãe,
nem pense em dizer que não,
não julgue, não faça drama,
nem ponto de exclamação...
Basta que desligue o rádio,
desligue a televisão.

É que hoje, mãe, desejo
uma coisa sem sentido:
ouvir o som estrondoso
do silêncio em mim contido,
que de tão absoluto,
inalcançável tem sido

Apenas poder ouví-lo
fazendo-me renascer.
Silêncio que de tão forte
nem a profunda surdez
tampouco a madrasta morte
não poderiam trazer.

Daniela Rodrigues
18.04.2011

terça-feira, março 15, 2011

Reflexões

Dia após dia, maquinalmente, você ser humano, segue seu roteiro. Acreditando ser o único condutor de sua vida você, não necessariamente nessa ordem, acorda, trabalha, se alimenta, estuda e dorme; numa rotina irredutivelmente esquematizada.

Certo dia, você está fazendo algo qualquer e, num gesto humanamente automático, imerge de repente, para dentro de si mesmo. Olhando exclusivamente para seu interior, você se desliga completamente desse palpável e, às vezes tão aborrecido, "mundo externo".

Olhar vago, corpo estático, semblante perdido. Seus olhos apontam para um ponto fixo à sua frente, porém dele nada enxergam. Fatos que aconteceram, coisas pendentes à fazer, algo que te disseram, tudo se passa em sua mente como num flashback e você se perde em pensamentos.

Quase que sem perceber, você começa atinar sobre as mais diversas coisas e assuntos nunca antes abordados. Conforme vai se desenrolando a linha de seu raciocínio, mais abrangentes e complexos vão se tornando seus pensamentos. Quando se dá por si, já está desenvolvendo reflexões sobre temas como: Quem sou eu? Qual é o meu papél na sociedade? O que é a vida? Pode-se encontrar a real felicidade? Existe a amizade verdadeira? O amor ainda existe, ou já não passa de um conceito? Afinal, será que estou sozinho(a) neste mundo?

Tão forte é o impacto que te causam todas as questões, que se abre dentro de ti um vazio, um medo ameno, algo que você mesmo não sabe interpretar. Então você desperta. As coisas ao redor não parecem mais as mesmas, como se você houvesse se distanciado por longos anos. Aos poucos seus olhos e ouvidos vão se acostumando à realidade.

Apesar de quase não se recordar de tudo o que pensara, ainda ficaram os resquícios das questões que outrora lhe afligiam, e, no fundo, bem no fundo você sente que tem, dentro de si mesmo, as respostas para todas elas. Porém, você não faz idéia de onde as respostas estão guardadas e isso te incomoda demasiadamente.

Como já terminara o que fazia, você agora caminha. Caminha por qualquer lugar, no rumo da busca, na busca de um rumo, ou somente caminha no rumo de casa. Olha as pessoas e as percebe. São tantas ao seu redor. Umas caminham como você, outras de paradas parecem fotografia, olhando de relance. Você pensa então nas tantas pessoas que há ao seu redor e descobre que não está sozinho deveras. Lembra da questão, de uma das questões de que refletira à pouco em que você se perguntava se está ou não sozinho neste mundo.

Você mesmo acaba por responder-te a tua própria questão. Há tantas pessoas neste vasto planeta, muitas delas gostam de questionar tudo assim como você o faz, muitas delas até se parecem com você.

Cada ser humano é diferente um do outro, e é nessa diferença que todos se tornam iguais. Iguais perante Deus e perante a natureza. Natureza de ser gente, natureza de ser humano, de estar humano no mundo. Cada ser vem sozinho ao mundo, nasce sozinho e, só depois de ter chegado, recebe a companhia familiar.

É isso! - você pensa. Cada ser humano é sozinho dentro de seu próprio universo. Todos somos sozinhos e fazemos companhia para todos os outros seres que também são sozinhos dentro de seus universos. A nossa solidão é que nos une! A nossa diferença é que nos iguala! A nossa humanidade é que nos aproxima!

E você chega, enfim, onde queria chegar. Está em casa. Já não vê mais aquelas pessoas desconhecidas da rua, pessoas que você descobriu que amava, embora não as conhecesse.Quem você vê agora são as pessoas que você conhece bem , rostos familiares que te sorriem, rostos que te acompanharam e que te acompanharão por toda vida. E mesmo quando essas pessoas não mais estiverem ao seu lado fisicamente, quando o abraço delas não passar de uma lembrança, você sabe que, mesmo assim, não estará sozinho.

E então, surge um contentamento dentro de ti. Contentamento este que você também não sabe interpretar. Finalmente você dorme, feliz, porque parece que encontrou a resposta para uma de suas maiores questões. E a resposta estava dentro de você, guardada num pensamento, numa reflexão!

Daniela Rodrigues
15.03.2011

terça-feira, março 01, 2011

O Presente dos Magos

Antes de contar esta lindíssima história, quero desejar um Bom Dia à você que está de visita ao meu blog.
Até pouco tempo atrás, eu nem fazia idéia de que existiu, de 1862 à 1910, um escritor norte-americano chamado William Sidney Porter, ou O. Henry, seu pseudônimo.
Foi então que, de súbito, uma amiga minha resolveu presentear-me com um livro deste escritor. Livro este, que de tão velho tinha suas páginas amareladas e que ela achara não sei onde.
O fato é que, não gostei do livro. Nem se quer pretendia lê-lo de início. É claro que não contei isso à minha amiga. Porém, aceitei-o de braços abertos. Nunca se pode recusar algo que lhe vem de bom grado, porque nunca se sabe o quanto isto tem para lhe oferecer.
Num dia desses, quando nada tinha à fazer, resolvi ler o tal livro. Surpresa minha foi quando, logo de cara, já me apaixonei pela primeira crônica. Tenho certeza que, ao ler até o fim, você entenderá o sentido desta crônica e o porquê de eu ter gostado tanto dela.
Quebrando um pouco o costume de somente postar coisas de minha autoria, vou contar-lhes essa história agora!



Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E sessenta centavos eram em moedas. Moedas economizadas uma a uma, pechinchando com o dono do armazém, o dono da quitanda, o açougueiro, até o rosto arder à muda acusação de parcimônia que tais pechinchas implicavam. Três vezes Della contou o dinheiro. Um dólar e oitenta e sete centavos. E no dia seguinte seria Natal.
Não havia evidentemente mais nada a fazer senão atirar-se ao pequeno sofá puído e chorar. Foi o que Della fez. O que leva à reflexão moral de que a vida é feita de soluços, fungadelas e sorrisos, com predomínio das fungadelas.
Enquanto a dona da casa gradualmente passa do primeiro ao segundo estágio, vamos dar uma espiada na casa. Um apartamento mobiliado, a oito dólares por semana. Não era exatamente miserável, mas tinha essa palavra pronta para o grupo de mendicância.
No vetíbulo embaixo havia uma caixa de correspondência na qual carta nenhuma seria posta, e um botão de campainha que nenhum dedo mortal jamais apertaria. Encontrava-se ali também um cartão anunciando o nome de "Mr. James Dillingham Young".
O "Dillingham" fora acrescentado durante um anterior período de prosperidade, quando seu possuidor estava ganhando trinta dólares por semana. Agora, que a receita baixara para vinte dólares, as letras de "Dillingham" pareciam nubladas, como se estivessem pensando seriamente em abreviar para um modesto e despretencioso D. Mas sempre que Mr. James Dillingham Young voltava para casa e chegava ao seu apartamento lá em cima, era chamado de "Jim" e carinhosamente abraçado por Mrs. James Dillingham Young, já apresentada ao leitor como Della. O que está muito bem.
Della terminou de chorar e cuidou do rosto com a esponja de pó. Postou-se junto à janela e ficou a contemplar melancolicamente um gato cinzento caminhando sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã seria Dia de Natal e ela tinha apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. Estivera a economizar totão por tostão havia meses, e esse era o resultado. Vinte dólares por semana não dão para nada. As despesas tinham sido maiores do que calculara. Sempre são. Apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. O seu Jim. Muitas horas felizes passara ela planejando comprar-lhe alguma coisa bonita. Alguma coisa fina, rara, legítima - algo que estivesse bem perto de merecer a honra de ser possuída por Jim.
Havia um espelho de tremó entre as janelas da sala. Talvez o leitor já tenha visto um espelho de tremó num apartamento de oito dólares. Uma pessoa muito esguia e muito ágil pode, com observar seu reflexo numa rápida sequência de tiras longitudinais, obter uma concepção bastante acurada de sua aparência. Della, por ser esguia, lograra aperfeiçoar-se nessa arte.
Subitamente, afastou-se da janela e postou-se diante do espelho. Seus olhos estavam brilhantes, mas sua face perdeu a cor ao cabo de vinte segundos. Num gesto rápido, soltou o cabelo e deixou desdobrar-se em toda a sua extensão.
Ora, os James Dillingham Youngs tinham dois haveres de que muito se orgulhavam. Um era o relógio de ouro de Jim, que pertencera a seu pai e a seu avô. O outro era o cabelo de Della. Morara a Rainha de Sabá no apartamento do outro lado do poço de ventilação, e Della teria algum dia deixado o seu cabelo cair fora da janela para secá-lo e depreciar assim as jóias e as riquezas de Sua Magestade. Fora o Rei Salomão o zelador, com todos os seus tesouros empilhados no porão, e Jim teria puxado o relógio cada vez que por ele passasse, só para vê-lo arrancar as barbas de inveja.
O cabelo de Della, pois, caiu-lhe pelas costas, ondulando e brilhando como uma cascata de águas castanhas. Chegava-lhe abaixo do joelho e quase lhe servia de manto. Ela então o prendeu de novo, célere e nervosamente. A certo momento, deteve-se e permaneceu imóvel, enquanto uma ou duas lágrimas caíam sobre o puído tapete vermelho.
Vestiu o velho casaco marrom; pôs o velho chapéu marrom. Com um ruge-ruge de saias e com a centelha brilhante ainda nos olhos, correu para a porta e desceu rapidamente a escada que levava à rua.
Parou onde havia um letreiro anunciando: "Mme Sofronie, Artigos de Toda Espécie para Cabelos". Della subiu a correr um lance de escada e se deteve no alto, arquejante, para recompor-se. Madame corpulenta, alva demais, fria, dificilmente faria jus ao nome de "Sofronie".
- Quer comprar meu cabelo? - perguntou Della.
- Eu compro cabelo - disse Madame. - Tire o chapéu e vamos dar uma olhada no seu.
Despenhou-se, ondulante, a cascata de águas castanhas.
- Vinte dólares - ofereceu Madame, erguendo a massa com mão prática.
- Dê-me o dinheiro depressa - pediu Della.
Oh, as duas horas seguintes voaram com asas róseas. Perdoe-se a metáfora gasta. Della se pôs a vasculhar as lojas à procura de um presente para Jim.
Encontrou-o por fim. Fora certamente feito para ele e para ninguém mais. Nada havia que se lhe parecesse nas outras lojas, e ela as revirara de alto a baixo. Era uma corrente de platina, curta, simples e de modelo discreto, proclamando adequadamente seu valor por sua mesma substância e não por qualaquer ornamentação espúria – como o devem fazer todas as coisas boas. Era digna até do Relógio. Tão logo a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Serenidade e valor – a descrição se aplicava a ambos. Vinte e um dólares cobraram-lhe por ela, e Della correu para casa com os oitenta e sete centavos. Com aquela corrente no relógio, Jim poderia preocupar-se decentemente com o tempo na frente de qualquer pessoa. Grande como era o relógio, ele às vezes o consultava meio envergonhado devido à velha tira de couro que usava em lugar de corrente.
Quando Della chegou a casa, seu embevecimento cedeu lugar a um pouco de prudência e razão. Pegou os ferros de frisar, acendeu o gás e pôs-se a reparar os estragos causados pela generosidade acrescida ao amor. O que sempre é uma tarefa muito árdua, queridos amigos – uma tarefa gigantesca.
Ao cabo de quarenta minutos, sua cabeça estava coberta de pequenos caracóis cerrados, que a faziam parecer, admirávelmente, um menino vadio. Contemplou sua imagem no espelho durante longo tempo, crítica e cuidadosamente.
- Se Jim não me matar – disse consigo mesma – antes de olhar-me pela segunda vez, dirá que pareço uma corista de Coney Island. Mas que podia eu fazer...oh, que podia eu fazer com um dólar e oitenta e sete centavos?
Às sete horas, o café estava preparado e uma frigideira quente no fogão esperava o momento de fritar as costeletas.
Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente no côncavo da mão e sentou-se a um canto da mesa, perto da porta pela qual ele sempre entrava. Ouviu então seus passos no primeiro lance da escada e empalideceu por um instante. Ela tinha o hábito de rezar pequenas preces silenciosas a propósito das mínimas coisas diárias, e agora murmurava:
- Oh, Deus, fazei-o por favor achar-me ainda bonita!
A porta se abriu, Jim entrou e a fechou. Parecia magro e muito sério. Pobre sujeito, apenas vinte e dois anos e já responsável por uma família! Precisava de um sobretudo novo e não tinha luvas.
Jim avançou alguns passos, tão rígido quanto um perdigueiro na pista de uma codorniz. Seus olhos estavam fitos em Della e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler e que a aterrorizava. Não era raiva, nem surpresa, nem desaprovação, nem horror; não era nenhum dos sentimentos para os quais ela estava preparada. Ele simplesmente a fitava com aquela peculiar expressão na face.
Della esgueirou-se para fora da mesa e se encaminhou para ele.
- Jim, querido – gritou –, não me olhe desse jeito! Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não poderia passar o Natal se dar um presente a você. Ele crescerá de novo...não se aborreça, por favor. Eu tinha de fazer isso. Meu cabelo cresce terrivelmente depressa. Diga “Feliz Natal”, Jim, e fiquemos felizes. Você não sabe que coisa bonita, que belo presente tenho para você.
- Mandou cortar o cabelo? – perguntou Jim a custo, como se não se tivesse ainda compenetrado desse fato patente após o mais árduo esforço mental.
- Cortei-o e vendi-o – disse Della. - Você não continua a gostar de mim do mesmo jeito, então? Estou sem meu cabelo, não estou?
Jim olhou à volta do aposento de modo curioso.
- Você diz que seu cabelo se foi? – insistiu, com um ar de quase idiota.
- Não precisa procurar por ele – disse Della. - Foi vendido, como lhe disse...vendido, não está mais aqui. É Véspera de Natal, querido. Seja bonzinho comigo, fiz isso por sua causa. Talves fosse possível contar os cabelos da minha cabeça – continuou ela, com súbita e grave doçura –, mas ninguém poderá jamais avaliar o meu amor por você. Posso fritar as costeletas, Jim?
Emergindo do seu transe, Jim pareceu despertar rapidamente. Abraçou a sua Della. Por dez segundos, contemplemos, com discreta atenção, qualquer objeto inconsequente, noutra direção. Oito dólares por semana ou um milhão por ano – qual a diferença? Um matemático ou uma pessoa arguta dariam a resposta errônea. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Esta asserção obscura será esclarecida mais tarde.
Jim tirou um pacote do bolso do sobretudo e atirou-o sobre a mesa. 
- Não me interprete mal, Della – disse. - Não acho que haja alguma coisa, corte de cabelo, raspagem ou xampu, capaz de fazer-me gostar menos da minha mulherzinha. Mas se você abrir esse pacote, poderá ver por que fiquei abafado no princípio.
Alvos dedos ligeiros desfizeram o atilho e o embrulho. Ouviu-se então um grito extático de alegria, e depois, ai!, uma súbita mudança feminina para as lágrimas e os gemidos, que exigiram o imediato emprego de todos os poderes de consolação do senhor do apartamento.
Pois sobre a mesa jaziam Os Pentes – o jogo de pentes para cabelos que Della adorara havia muito tempo numa vitrina da Broadway. Belos pentes, de tartaruga legítima, orlados de pedraria – da cor exata para combinar com o lindo cabelo desvanecido. Eram pentes caros, ela o sabia, e seu coração se limitara a desejá-los e a suspirar por eles sem a menor esperança de vir um dia a possuí-los. E agora pertenciam-lhe, mas as tranças que os anelados enfeites deveriam adornar não mais existiam.
Ela, porém , os apertou contra o peito e, por fim, pôde erguer os olhos nublados, sorrir e dizer:
- Meu cabelo cresce tão depressa, Jim!
E então Della pulou como um gatinho chamuscado e gritou:
- Oh! oh!
Jim ainda não vira o seu belo presente. Ela lho estendeu ansiosamente na palma da mão aberta. O fosco metal precioso parecia brilhar com o reflexo do seu jubilante e ardente espírito.
- Não é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para achá-lo. Doravante, você terá de ver as horas uma centena de vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como fica nele.
Em lugar de obedecer, Jim deixou-se cair no sofá, pôs as mãos atrás da cabeça, e sorriu:
 - Della – disse –, vamos pôr os nossos presentes de Natal de lado e deixá-los por algum tempo. São lindos demais para poderem ser usados agora. Vendi o relógio para conseguir o dinheiro com que comprei seus pentes. Que tal se você fritasse as costeletas agora?

Os magos, como sabem, eram homens sábios – homens maravilhosamente sábios – que trouxeram presentes para a Criança na manjedoura. Inventaram a arte de dar presentes natalinos. Sendo eles sábios, seus presentes eram sem dúvida igualmente sábios. Possivelmente admitiam o previlégio de troca em caso de duplicação. E aqui lhes contei canhestramente a desimportante crônica de duas crianças tolas, num apartamento, as quais, de maneira mais insensata, sacrificaram, uma pela outra, os maiores tesouros de seu lar. Mas como derradeira palavra para os sensatos dos dias que correm, seja dito que, de todos que dão presentes, os dois foram os mais sábios. Todos que dêem e recebam presentes como os deles são os mais sábios. Em toda parte, os mais sábios. São os magos.
O. Henry

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Ode à Insônia


Outra vez em minha vida
seja bem-vinda e discreta,
Oh, minha insônia querida
que tranforma-me em poeta.

Enquanto eu, aqui sozinha,
concretizo meus versinhos,
durma bem, oh mamãezinha,
e sonhe com os anjinhos.

Durma bem meu irmãozinho.
Papai, não fique acordado!
Eu vos guardo com carinho
os vossos sonhos cansados.

Não irei pra cama agora
de nenhum jeito e maneira.
O sono, como outrora,
não me fará prisioneira.

De dia eu não me gosto,
visto que não sou alada.
Na poesia sempre aposto,
sempre sonho acordada.

A insônia que, em vão,
sempre aos outros enlouquece,
vem me dar inspiração,
minha mente enaltece.

Só quando o sol apontar,
rasgando o anil estrelado,
e o sonho se desmanchar
em quem já acorda deitado...

A insônia não mais terei,
terei só minha poesia.
Feliz, então, dormirei
na minha noite do meu dia.

Daniela Rodrigues
08.06.2010




Bobagens


Anseio de escrever alguma coisa louca,
alguma coisa urgente e mais que tudo: bela!
Já criei cinco títulos de poemas...
mas não consegui terminar nenhum!
Tenho muita pena daqueles poeminhas sem nome,
daqueles pobres sonetos enumerados...
Mas no meu caso é diferente.
Existem os nomes...
só que sem os poemas!
Eu não estou vendo nenhuma loucura,
urgência ou beleza nisso que estou escrevendo.
Então, é melhor parar por aqui,
antes que alguém pense que só escrevo...
                                                             BOBAGENS!

Daniela Rodrigues
25.08.2010

Crac! Crec!



Quebra...
do silêncio,
da ponta do lápis,
da bolsa de valores.

Quebra do verso!

E todas essas quebras
se encontram lá na quebrada
pra compôr uma música
não muito melódica.

Crac! ...quebrou o silêncio!
Crec! ...a ponta do lápis!
Crac! ...agora a bolsa!
Crec! ...quebramos o verso!

Assim, sucessivamente, vão
sempre quebrando-se as coisas
e formando: loucas onomatopéias!

Daniela Rodrigues
24.05.2010

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Tenham Paciência!


Tenham paciência comigo,
eu vos peço, por favor.
Minha poesia é criança,
mas também tem seu valor.

Você, escritor famoso,
sábio, renomado e culto...
Diga se sabia antes
qual seria o seu futuro?

Não critiquem minha obra.
Não façam resenha. Nada!
Sou muito pequena ainda,
para ser analisada.

Quando eu for inteligente
e minha arte for madura,
então podereis julgar-me
dentre a literatura.

Mas agora eu vos peço:
paciência, por favor!
Minha arte é singela,
mas é feita com amor.


Daniela Rodrigues
13.05.2010

Te Tenho

Meu filho, hoje eu te tive,
primeira vez em meus braços,
sentindo esse forte laço,
feliz como nunca estive.

Hoje, meu filho, eu te tive.
'Sperança por demais linda,
doçura sempre bem-vinda,
vida vinda de quem vive.

Te tive e vou te ter
ainda por muito tempo
até chegar o momento
de você voar, crescer...

Mas sempre que precisar
de colo ou de abrigo
também me terás contigo,
para sempre vou te amar!
               
                   Daniela Rodrigues
       10.05.2010 (após o Dia das Mães)